Tuesday, January 02, 2007

Dois mil e sete

Mais um ano. 2007. Dois mil mais sete. Sete anos passaram desde que aguardávamos a entrada no terceiro milénio. E não sei se é o peso da idade mas os anos pareciam mais diferentes do que são agora. Os oitentas foram diferentes dos noventas e destes sete que os seguiram. Talvez seja a diferença psicológica de lhes darmos nomes diferentes, de chamarmos oitenta a uns e noventas a outros. Talvez seja apenas coincidência que a chegada do novo milénio tenha coincidido sensivelmente com a minha entrada no mundo do trabalho que significa necessariamente o início da rotina maquinal que nos persegue a todos. Ao longo destes 26 anos coloquei imensas máscaras, fui imensas pessoas e no fim continuo sem saber quem sou. Melhor assim. Que eu possa dizer que os primeiros sete foram diferentes dos segundos sete que aí vêm. Vamos tomar esta liberdade de chamar aos anos o que quisermos e de decidirmos quando quisermos que a partir dali tudo vai ser diferente se nós quisermos. Vou fazer tudo para que não seja dois mil mais sete. 2006 foi muito bom. 2007 vai ser melhor. 2007 vai ser diferente.

Tuesday, October 03, 2006

Rest in Peace

Ontem durante o jogo do Sporting chovia a cântaros. Quem olhasse para os holofotes via uma imensa cortina de água a cair. Lá mais para o final do jogo, o relvado já empapava em algumas zonas, principalmente na pequena área onde por vezes o ajuntamento era muito. Estava um tempo terrível e eu só pensava na molha que ia apanhar quando dali saísse. Um amigo meu ligou-me mas a confusão era demasiada para perceber o que me queria dizer. O Sporting jogou mal mas ganhou e eu acabei por arranjar boleia. Já no carro, consegui falar com ele. Um amigo dele, meu homónimo, havia sido assassinado e ele lembrou-se de me ligar por se ter lembrado de mim quando lhe deram a notícia. Eu conhecia o rapaz, conhecia-o bem, das saídas à noite, das festas de aniversário, de o ver na rua de trás juntamente com o resto do pessoal. A proximidade da morte incomodou-me porque nesta idade ainda pensamos que acontece só aos outros e que ainda falta muito para chegar a nossa vez. Ele certamente pensaria o mesmo. No dia seguinte, estava um céu limpo a fazer lembrar os dias de Leste em que as ondas são perfeitas. Daqueles dias, em que se não tivesse de trabalhar, certamente estaria cedinho na praia e ao chegar teria aquela sensação imensa de tranquilidade ao ver o mar. Aposto que a superfície da água pareceria azeite e que só se ouviria o som da remada e das ondas a quebrarem lá fora. Iria apanhar boas ondas. Foi pena ter de ir trabalhar e mais ainda que alguns não tivessem a oportunidade de esperar por um dia perfeito depois de um de tempestade.

Monday, March 13, 2006

Hoje ouviu-se o Verão

Hoje esteve calor. As pessoas já dizem que o tempo está a mudar. Esperam que o frio se tenha ido embora definitivamente e que possam guardar os casacos e os guarda-chuvas.

As mudanças de tempo têm som e têm cheiro. Quando o calor se foi embora deixou um cheiro a terra no jardim em frente à minha casa. É sempre assim. A primeira humidade do Outono avisa-nos que o Verão já acabou.

Eu gosto do Verão. Quando penso nos melhores momentos da minha vida, há sempre sol, há sempre calor. E apaixono-me como se não houvesse amanhã porque os olhares são mais sinceros quando há esta luz. Um amigo meu diz que no Verão todas as pessoas são bonitas, talvez seja por isso.

De qualquer forma, hoje ouviu-se o Verão. As janelas estão abertas e a rua parece estar cá dentro a chamar-me para sair. Não tarda muito vou dormir ao som das cigarras.

Monday, March 06, 2006

Faz hoje algo que não faças há muito tempo

Nas ruas de Lisboa o que não faltam são paredes com pinturas de um qualquer artista ou rabiscos dum profeta improvisado.

Em pleno bairro alto, mesmo ali ao lado do Frágil encontrei escrita uma pérola. Dizia: “Faz hoje algo que não faças há muito tempo".

Pareceu-me boa ideia.

Sunday, February 05, 2006

Sou eu

É de mim que tens estado à espera. Sou a boneca de plasticina que tu moldaste. Sou aquela que passa as noites em branco contigo a olhar o céu sem te conhecer. Sou eu quem te comove e que te faz baixar o olhar como um menino envergonhado. Sou eu a tua cúmplice, a tua confidente, a que te consegue dizer que te ama sem uma única palavra, a que troca olhares secretos contigo. Sou eu quem sabes que estará sempre aqui, que não te fará olhar para o lado para confirmar. É meu o corpo que se entrega ao teu. São meus os braços em que tu adormeces.

És tu. Mas onde estás? Porque não me bates à porta num fim-de-semana solarengo e me dizes: “Estou aqui. Sou eu.”

Monday, December 12, 2005

Ponto final

Quantas vezes nós já passámos por isto? Diz-me. Quantas? Uma? Duas? Mil? Ou também já lhes perdeste a conta? E achas que nos levou a algum lado? Tu tiveste todas as oportunidades e mais alguma e achaste sempre que eu estaria aqui. Pois bem, agora não estou. E não vou estar nunca mais, habitua-te à ideia. Se precisas de ombro amigo para chorar, não contes comigo. Até isso tu conseguiste perder. Há coisas que eu nunca te vou conseguir perdoar, conseguiste olhar-me nos olhos e seguir o teu caminho. Pois bem, não desistas agora, o mais difícil já tu fizeste. Mostra à tua professora de desenho que estava enganada. Mostra-lhe que sabes para onde estás a ir. Eu sei para onde quero ir: para longe de ti. Desculpa se as palavras são duras, é propositado. É para não teres a tentação de continuares isto mais. Já devia ter acabado. Esquece o espírito natalício, até essa desculpa nós já esgotámos para continuar com um erro. Não me respondas de nenhuma forma, não me procures, faz por não te lembrares de mim, ou se o fizeres lembra-te apenas como uma boa recordação, é tudo o que serei para ti. Deixa-me ser feliz. É um ponto final.

Sunday, October 23, 2005

A dormência

Acho que padeço de uma doença chamada dormência. Não sei se será das cinco horas que durmo por dia ou dos vinte e cincos anos que vi passar sem dar conta. Temo que a justificação não se fique por culpar dois números. E é fácil culpar os números porque são estupidamente definidos.

Mas esta dormência não é uma típica dormência de casa de banho, de quem se sentou demasiado tempo na sanita a pensar na vida e depois teve de coxear para fazer circular o sangue na perna. É uma dormência na cabeça, ou no corpo todo, não sei dizer.

O meu computador já tem um piloto automático. Faz uma linha a seguir à outra, uma conta de cada vez. E passadas umas horas, deixa de ser um projecto, deixa de ser o pilar, deixa de ser o momento, são apenas números e clicks de rato. Espero ansiosamente pelo almoço, para ter uma curta conversa, ver o sol, esticar as pernas. Volto e espero pelas seis. Trabalho dormente.

O meu carro já tem piloto automático também, entro nele e ele leva-me a onde eu quero; os sítios são sempre os mesmos: trabalho, ginásio, casa. Dos caminhos não me lembro, só sei que os fiz porque cheguei ao destino. Conduzo dormente.

E quantas vezes já o meu piloto automático me levou para onde não queria ir? “Foda-se! Já me enganei, hoje é fim-de-semana, não é por aqui.”

A minha vida tem um piloto automático. Não sei como cheguei aqui, fui andando. Mas às vezes penso: “Foda-se! Já me enganei!”